sábado, 8 de março de 2014

Hoje eu quero falar sobre você e sobre tudo aquilo que me maltrata por dentro. Sabe, são tantas coisas. Acredito que você também tenha as suas mágoas escondidinhas em um canto do peito. Poucas vezes te vi chorar. Muitas vezes te vi calar e guardar. Sempre achei melhor colocar as coisas para fora, gritar, explodir, falar, conversar. Mas existe algo que me deixa muda. Nunca consegui falar sobre os meus sentimentos mais profundos para você. Algo me travava. Hoje resolvi dizer.
Escrevo porque você tem muita importância na minha vida. Não quero que a gente se perca. Não quero que a gente se afaste. Eu não entendo seu jeito racional, você não compreende minhas emoções e isso não precisa ser um problema. Sabe, eu só queria ser boa. É, é isso mesmo. Eu queria ser boa o suficiente para você se orgulhar de mim. Por isso, queria chamar a sua atenção. Queria um elogio, algo assim. Queria que você lesse meus textos, se orgulhasse das minhas conquistas. Mas você se detém nos meus tropeços. Usa escudos, não se aproxima. Usa a palavra para me repelir. Você não sabe o quanto me magoa a cada vez que me agride com as palavras e não entende a minha subjetividade. Eu queria os seus braços abertos. Queria colo, atenção, queria que pelo menos uma vez você secasse as minhas lágrimas. Sabe, sempre tive vergonha de chorar na sua frente. Me sinto boba, quase infantil. Antes, eu saía, batia portas, me escondia, chorava. Sempre esperei que você fosse atrás de mim, me abraçasse. Meu Deus, quantas vezes esperei por um abraço que nunca veio. Tenho defeitos. Muitos deles. E você sempre me apontou cada um. Por favor, entenda que você tem defeitos também. Sei que errei ao tentar ser perfeita e andar em linha reta. Sei que errei ao passar grande parte da vida tentando ser alguém. Sei que tenho minha parcela de culpa. Ei, existe culpa nisso? Você tem um coração tão bom, é uma pessoa tão cheia de qualidades e bondade. Mas você não sabe lidar com emoção, tem uma couraça, uma casca, um escudo, se protege talvez de você mesmo. Por favor, se abra para a vida, pra mim. Vejo você e penso ele-tem-amor-pra-dar. Mas cadê esse amor todo? Cadê o olhar terno e cheio de carinho e orgulho? Tento lembrar quando você disse que eu era bonita ou inteligente ou engraçada ou legal ou sei lá, alguma coisa boa. Eu quase não lembro mais. Desculpa, eu não consigo lembrar! Isso me dói tanto. Lembro de antes. De muito antes. Você teve tanto amor e cuidado um dia. Eu só queria me sentir importante para você, sabia? Minha vida inteira busquei isso, busquei admiração. É essa a palavra: queria que você me admirasse. Admirasse meu trabalho, minhas escolhas, minha força. Há pouco tempo, passamos por uma situação bem difícil que me fez um mal absurdo. Durante algumas semanas pensei que não ia aguentar. Mas vi o quanto sou forte e capaz de encarar as adversidades, os contratempos. Talvez você não saiba o quanto aquilo me marcou, o quanto eu sofri. Dormia chorando todas as noites, mas acordava e te ouvia. Era exatamente isso que esperava de você: seu ombro. Mas eu tenho vergonha de pedir, eu não sei pedir e não sei se você sabe se dar, se doar. Largue as armas, os escudos, os disfarces. Hoje, estou mais madura e um pouco mais serena. Eu sou essa que você está vendo e, sim, tenho falhas. E, sim, sou pura emoção. Tenho algumas cicatrizes, feridas que não fecharam direito, raivas, coisas mal resolvidas. Quero me livrar disso tudo e seguir em frente. Preciso resolver isso e seguir no caminho que escolhi para mim. Espero que você se livre das coisas ruins e me acompanhe também. Nunca é tarde para aparar arestas. Vem.


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